“Justiça não é apenas um conceito filosófico ou jurídico, o impacto de sua ausência na vida real (ou virtual) é devastador. A violência estrutural - étnica, religiosa, de gênero, social, econômica ou etária, entre outras - pode provocar danos muitas vezes irreparáveis. Esta desigualdade impulsiona a injustiça, esvaziando a potência de indivíduos, principalmente dos vulnerados.”
Nilza Maria Diniz é formada em Ciências Biológicas, no ano de 1985, na Universidade de São Paulo- USP; Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto – FFCLRP/USP. Ela nasceu em São Paulo/SP, chegou em Londrina em 1997 e relata a trajetória. “Tive influência de vários professores mas destacarei duas professoras: a primeira, apresentou-me a transmissão das características hereditárias “AA, Aa e aa” (alelos para uma dada característica); a segunda professora, por estar fazendo pesquisa, apresentou o conceito de engenharia genética, ainda na década de 1970, para alunos do ensino médio. Era bem o início das manipulações de DNA, inclusive do primeiro organismo geneticamente modificado, apresentado recentemente àquela época. Estou há 34 anos na universidade, como não considero nem pesquisa, nem extensão e muito menos ensino mercadorias, seria melhor que tivesse uma outra denominação à minha atuação, totalmente ligada à educação pública”.
Conta sobre a sua maior experiência e desafio na profissão. “A maior ou mais impactante foi ter contribuído para o controle social de pesquisas, envolvendo seres humanos, quando fui membro titular da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (uma das comissões do Conselho Nacional de Saúde – Ministério da Saúde) entre 2003 e 2007. Atualmente vivo um desafio, talvez ainda maior no World Emergency COVID19 Pandemic Ethics (WeCope) Committee – Comitê Mundial Emergencial de Ética para a Pandemia da COVID-19, onde as discussões são intensas sobre questões fundamentais em relação à atual pandemia em virtude das diferentes formações e culturas dos componentes do grupo, sem contar a responsabilidade com as orientações que publicamos. Agora preciso comentar sobre aquilo que talvez tenha sido meu maior desafio na vida, fui voluntária nos Jogos Olímpicos de 2016 – RIO2016 e fui selecionado a para ser “statistician”, e saí do zero (não tinha ideia do que seria isso) para fazer a final o evento teste O VIVO (pré evento para testar as instalações antes da olimpíada propriamente dito); e mais, fui convocada para os Olímpicos e Paraolímpicos, sendo que fiz uma das finais (medalha de Bronze) do Tênis. Fui absolutamente incrível, atém de aprender algo novo, conhecer os deuses do olimpo do Tênis, como Novak Djokovic, Andy Murray (medalhista de ouro na RIO2016) Serena Williams, Venus Williams, Rafael Nadal, Kei Nishikori, Juan Martín del Potro. E o nosso ídolo Gustavo Kuerten (não na quadra, mas na organização). Foi incríve!”
Segundo Nilza, todo trabalho contribui para o próprio crescimento, sente-se grata ao universo, às pessoas que a ajudaram ou de alguma maneira contribuíram para um bom desfecho na profissão. Sobre os projetos futuros, quando perguntada no ano passado, conta que: “deveria estar voltando do Japão, onde teria feito um pós-doutorado, mas por motivos óbvios não viajei. Mudei um pouco o projeto original e que incluía parte do trabalho no Japão e parte em Brasília, pretendo manter a parte nacional e me dedicar a entender as estruturas da violência crescente em ambientes acadêmicos.” Ela fez mestrado no programa de pós graduação da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto -FMRP/USP em Genética e Doutorado em genética na FMRP/USP com período sanduiche na Washington State University em Pullman-WA, Estados Unidos. Em 2004 fez seu primeiro Pós doutorado na Cátedra UNESCO de Bioética, UnB em Brasília-DF.
A homenagem é para a mãe, Ana Maria Diniz, e sua família, as irmãs Nilda Diniz Rojas, Neide Diniz Machado, Nívia Diniz; e cunhados, Hernán Rojas e Reginaldo Machado. “Também tive muita sorte de ter convivido com figuras importantes e chaves, tanto na genética como na bioética. Vou citar alguns nomes, simplesmente porque não poderei citar todas as pessoas que fizeram parte da minha formação: Ademilson Espencer Egea Soares (meu eterno orientador na Genética), Catarina Takahashi e José Eduardo de Siqueira. In memoriam: William Saad Hosne, Marco Segre, Léo Pessini e Leonardo Prota.”
Quando optou pela profissão seu maior objetivo foi entender os mistérios da Biologia e da Genética. E seu maior desejo, contribuir para a construção de uma sociedade melhor, tanto na educação como na atuação como professora e pesquisadora. Ela trabalha na Universidade Estadual de Londrina (Departamento de Biologia Geral – Centro de Ciências Biológicas).
O lazer é bem diversificado. “Gosto muito de praia, acompanhada da minha família. Gosto muito de viajar, por várias vezes minhas viagens foram a trabalho, mesmo assim é algo que adoro fazer, ou seja, conhecer novos lugares e culturas. Adoro dançar. Sou iniciante do ballet clássico e aficionada do Flamenco, pela cultura espanhola em geral. No Espaço Cultural Flamenco de Londrina faço dança, cante e curso de espanhol.” Participa de eventos profissionais e cita alguns: “Congresso da Internacional Associativo of Bioethics – IAB indispensável, fui em vários de Bioética desta associação, por exemplo em Londres – UK (2000); Brasília (2002), Sydney – Austrália (2004); Rijeka – Croácia (2008); Rotterdam – Holanda (2012); Ciudad de México (2014); Philadelphia - US (2020), este último, transferido para uma plataforma virtual por causa da pandemia e realizado em julho de 2020. Em todos eles apresentei trabalhos, bem como meus estudantes. Sendo que em 2000 a IAB financiou minha viagem para o Reino Unido, e em 2008 foram dois de meus estudantes (um do Curso de Direito e outra do curso de Ciências biológicas que receberam auxílio financeiro para a viagem para a Croácia. Também fui à maioria dos Encontros Luso Brasileiros de Bioética e em todos os Congressos da Sociedade Brasileira de Bioética desde o ano 2000, e atualmente sou membro da diretoria desta entidade. Além disso sou vice-presidente do “Fórum Latino Americano de Comités de Ética in Investigación en Salud (FLACEIS) e participei de quase todos os encontros presenciais desde 2003”.
Sobre as expectativas para o futuro da profissão, cita uma viagem à Croácia, e espera que haja mais valorização da ciência e da educação. Sente-se motivada quando constata estudantes esforçados, inteligentes e respeitosos, não apenas com os professores(as), mas também com toda a comunicação universitária com os membros para a Croácia. E finaliza: “emociono-me com atitudes de carinhos dos estudantes, e foram várias durante esses mais de 23 anos de UEL. Sinto-me feliz com as atitudes de respeito pelos meus pares dentro da Universidade. Bom seria que 100% do tempo fosse assim!”, conclui.
Post scriptum: Dra. Nilza dedica sua carreira, sua vida e esta matéria à memória de sua Mãe Ana Maria Diniz que nos deixou no dia 20 de fevereiro de 2021.