“O artista Juarez Machado disse-me um dia: “Um artista deve ter o seu talento natural, é lógico, mas a dose de persistência deve ser, infinitamente, maior”. E é exatamente isso. O artista não para, está sempre em processo de criação.” (Jane Bordin)
Jane Ayres Bordin ama e respira arte. E deixa isso transparecer nos primeiros minutos de conversa. Fala com paixão sobre a arte de pintar; traz à tona recordações que estão intimamente ligadas ao seu talento. Um talento que participou de muitos eventos de arte, como salões, coletivas, individuais, com algumas premiações em diversas galerias no Brasil e no exterior. Viveu um tempo na Europa, especificamente, em Portugal, por motivo de estudos acadêmicos, onde a sua pintura também teve o reconhecimento de público e de críticos. Em razão disso, é considerada uma das nossas mais consagradas artistas plásticas.
A pintura de Jane Bordin é muito pessoal, tendo conseguido, ao longo dos anos, preservar, em seu trabalho, a autenticidade na elaboração do espaço e no cromatismo das pinceladas. Suas obras revelam sua personalidade, seu talento, numa harmonia entre criador e criatura. Acima de tudo, demonstra uma personalidade vibrante que não acompanha modismos, e sim, o seu aprimorado gosto estético. Por isso, tão admirada e elogiada.
Paranaense nascida em Ponta Grossa, passou parte de sua infância em Sertanópolis (PR), onde seu pai João Dias Ayres iniciava a carreira de médico e cirurgião. E relata: “Minha mãe, Mary, era professora e ensinou-me as primeiras letras e por ela fui alfabetizada para a vida e para o mundo. E de meu pai recebi o exemplo de entusiasmo à vida e a crença na capacidade humana. Fiz o magistério no Colégio Nossa Senhora de Sion de Curitiba em 1956. E, desse tempo, guardo, com muito carinho, as amizades que lá fiz e que ainda me acompanham nos caminhos da vida. Sou grata pelos relacionamentos familiares que o destino me ofereceu, pois desfruto o afeto e a presença amiga de minhas irmãs, Sonia, também artista plástica; Ivone, mestra em Letras e Maysa que é psicanalista.”
Vivendo em Londrina desde 1954, Jane casou-se com Evonyr Bordin em 1959 e teve cinco filhos: Evonyr Filho, Ana Paula, João Luiz, Alexandre e Rodrigo que lhe deram dez netos e duas lindas bisnetas, Lara e Maria Eugênia. Graduou-se em 1978 no curso de “Educação Artística na Universidade Estadual de Londrina, hoje chamado de “Artes Visuais”“. E já desfrutando o reconhecimento profissional como artista, e com algumas obras premiadas em salões, iniciou uma carreira acadêmica nesta instituição em 1980.
O seu instinto maternal que se manifestou com os cuidados e com a educação dos filhos, transpôs-se também para a docência, em que se descobriu vocacionada. A experiência proporcionou-lhe crescimento pessoal e mais vivência pela salutar troca de experiências no relacionamento aluno e professor.
Entre os anos oitenta a noventa, teve um período de uma atividade artística muito intensa, com participações e divulgação de sua pintura. Sensível às características da região na qual vive, cria na época, a denominação “Hinterland” – terra do interior – para suas obras inspiradas nos costumes e hábitos da vida do homem que lida com a terra e do universo que o cerca. Dessa fase, tem algumas obras no Palácio Iguaçu, sede do Governo do Paraná, em outros órgãos do governo do Estado e em coleções particulares. Sobre seu trabalho, nessa época, escreveu o jornalista e professor Ivens Fontoura: “A obra de arte assinada por Jane Bordin é sadia e sem medo. Sua composição é rica, principalmente, quando articula objetos aos pequenos cantos das casas de madeira, o que durante muito tempo, caracterizou ainda mais a sua terra, Londrina, e o Paraná de tantos outros. Sua obra extrapola os valores pictóricos, pois além do cheiro, tem a musicalidade e o gesto do homem do campo, seu comportamento, sua cultura”, ressalta.
O gosto pela pesquisa teórica em arte foi outra vertente que a levou a alçar voos mais longos. Encantada pelo estudo das obras de arte e seus significados, foi para Portugal em 1992, para desenvolver um projeto de pesquisa para uma monografia sobre a imaginária religiosa do Culto da Imaculada Conceição. Em Portugal, além do trabalho teórico, incursionou pelo mundo das artes, iniciando uma nova e produtiva fase da vida. Sua pintura ganhou novas cores e vibrações. Convidada a divulgar seu trabalho como artista, logo encontrou os seus apreciadores, e motivada em ser acolhida por uma nova sociedade, sua produção pictórica cresceu e se expandiu.
Foi mencionada em publicações e também em dicionários de artistas portugueses, bem como teve publicados seus estudos iconográficos.
Ela retorna para Lisboa, em 1998, para cursar o mestrado na Universidade de Lisboa, sob a orientação do Doutor Vitor Serrão. E com a dissertação: “Tota Pulchra Doutrina, Culto e Iconografia da Imaculada Conceição na Arte Luso-Brasileira, entre 1560-1760”. Faz a defesa e recebe o título de Mestra em Arte, Patrimônio e Restauro.
Para Jane, “a obra do artista plástico, como a do escritor, é a marca de sua passagem pela vida, as impressões, as emoções, as alegrias e as tristezas. É a sua contribuição para o acervo da humanidade.” Além da pintura, sua satisfação é o convívio com os familiares, especialmente, com os filhos e noras, desfrutando a alegria que é estar com os netos. “Estamos sempre reunidos porque a família é a base de tudo na vida.”