“A vida não é a que a gente viveu, mas a que a gente recorda e como recorda para contá-la.” (Marquez)
Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Londrina, turma de 1971, Georfravia Montoza Alvarenga é mãe de Mariane Montoza Lobo, 39 anos, e Fernando Montoza, 37 anos. Considera Londrina, onde nasceu, o seu porto seguro. Ela conta um pouco da sua trajetória familiar e profissional: “A motivação primeira para a carreira partiu do prazer em brincar de professora durante a meninice. Mais tarde, um modelo de vida, de mulher e professora foi uma prima muito especial, a professora Santana Batista de Lima. Exemplo de determinação, sabedoria, profissionalismo e elegância que me arrastou para o magistério. A terceira motivação foi a grande valorização e reconhecimento no decorrer dos anos dos meus movimentos como docente e pesquisadora pelos meus alunos e pelo meio acadêmico. Isso me manteve na área. Fui criada no interior, na zona rural, até os sete anos e, depois, foram idas e vindas entre Londrina e Paranavaí, onde brincava no quintal e na rua com um irmão, duas irmãs e a criançada da vizinhança, meus alunos na escolinha improvisada embaixo de uma árvore. Meu pai, proprietário rural, exemplo de pessoa ativa e de bem com a vida, incentivava a estudar para trabalhar em algo que não fosse de sol a sol, no verdadeiro sentido da palavra. Minha mãe, segura de si nas lidas domésticas, incentivava a estudar para ser independente”. Ela recorda tudo com carinho.
Mas foi em meio à turbulência de transformações dos anos 70-80 que Georfravia tornou-se professora e, tendo cursado o magistério, iniciou a carreira no ensino básico. “Lecionando, cursei a faculdade Pedagogia. Daí para a docência no ensino superior foi um passo. Era 1972. O encantamento pela profissão foi do tamanho do meu desejo de aprender e ensinar. Entre alegrias e surpresas, passei ao contexto de articuladora, fui desafiada com coordenações, chefias e diretorias. Também passei a conquistar a confiança dos colegas professores e dos estudantes. Nesse movimento, dei os primeiros passos em direção à identidade profissional e fixei meus objetivos no ensino superior.”
A professora trabalhou por 40 anos, dedicando-se aos quatro níveis de ensino (básico, graduação, pós-graduação lato sensu e pós-graduação stricto sensu, mestrado e doutorado) e também em empresas com desenvolvimento pessoal, profissional e coaching. Costuma dizer que teve grandes experiências na profissão e que, a cada passo dado, surgia um desafio diferente. “O primeiro desafio era eu, uma menina com 18 anos que nunca havia trabalhado com crianças. Tive que alfabetizá-las. E eram 38 crianças! Batismo de fogo que deu certo. O segundo desafio foi iniciar a docência no ensino superior recém-saída da graduação. Por último, cito o desafio que carreguei até esses dias atrás: o de entender que a vida não é só trabalho e que o trabalho não é toda a sua vida. E, neste último desafio, acrescento que é necessário planejarmos, entender nossas escolhas, estabelecer prioridades e, especialmente, não se culpar pelo ócio ou por não dar atenção suficiente a quem merece sempre mais. Aprendi a duras penas.”
Durante os anos de exercício profissional, várias emoções se fizeram presentes e Georfravia cita uma que classifica “bem piegas”, mas que a preencheu. “Foi ser aplaudida pela primeira vez ao término de uma aula e por um grupo extremamente exigente. Deu-me a sensação de que eu podia.” Destaca que a cada trabalho bem-sucedido tinha a sensação de transcendência. “Transcender, se deixar ser tocada pelos sonhos e as esperanças a respeito de uma vida na qual 40 horas semanais ou mais foram dedicadas ao trabalho. E isso só foi possível com profissionalismo, comprometimento, automotivação e aprendizado contínuo.” Atualmente, ela trabalha eventualmente como coaching. “E assim estarei até que outros ventos me levem a outras paragens”, diz.
Quando questionada sobre uma passagem marcante de sua carreira, ela conta: “Voltando num sábado à noitinha, cansada e dirigindo depois de ministrar um curso, com meu filho ainda criança no carro, com pressa para chegar a minha casa, cometi o deslize de fazer uma ultrapassagem sobre uma ponte. Fui flagrada por um oficial que pediu que eu parasse e descesse do carro. Olhou para o banco de trás e viu meu filho sentado no meio de livros, pastas e trabalhos de alunos. Perguntou-me o que eu fazia tão longe de casa. Expliquei que era professora e que dava cursos na pós-graduação em algumas cidades aos fins de semana. Olhou-me com a maior consideração e, ao liberar-me, sem uma censura disse: “Vá, professora. Estamos no mesmo barco, batalhando pela vida em qualquer horário e dia da semana. Naquela semana, os professores foram agredidos pela cavalaria de choque do então governador Álvaro Dias, ao participarem de uma manifestação em Curitiba. Eu não estava lá. Mas estava ‘no mesmo barco’.
A professora afirma ser uma “feliz jubilada, como dizem os espanhóis”. Sendo assim, dedica-se à família, em especial aos netos gêmeos, Paulo e Francisco, nascidos em maio de 2018. O lazer, além das viagens culturais, é com muita leitura, concertos e shows, teatro e especialmente cinema.